Foi durante uma tarde que se apresentava sombria, a do passado dia 11 de dezembro, que se realizou a terceira visita da terceira edição da Rota das Árvores do Porto, e que, desta feita, contemplou o bonito Parque da Pasteleira; um segredo botânico bem guardado na zona ocidental da cidade. Efetivamente, este ainda jovem parque, virado ao Douro e ao Atlântico e, porventura, ainda por muitos desconhecido, alberga um diversificado conjunto arbóreo-arbustivo, composto quer por espécies nativas de Portugal quer por muitas outras provenientes de tantas outras partes do mundo, constituindo-se como uma verdadeira surpresa a quem o visita. Reunidos que estávamos, lá partimos, sem mais demoras, à sua descoberta.

E não houve que caminhar muito para, num instante, chegarmos às asiáticas costas do Pacífico, pois logo ali nos recebia um vaidoso rafiolépis (Rhaphiolepis umbellata) que, como já seria de esperar nesta altura do ano, exibia os seus bonitos e roliços frutos, em tons azulados ou violáceos. No entanto, querendo chamar ainda mais a si a atenção, mostrava-nos também, muito fora de época, algumas das suas delicadas e aromáticas flores com que se cobre na primavera. Fazendo-lhe companhia, e emoldurando a entrada no parque, estava um já muito altaneiro norte-americano; um bordo-prateado (Acer saccharinum), já despido das suas recortadas e muito particulares folhas bicolores, que se espalhavam, então, a seus pés, ao abrigo da sua copa.

Também completamente despido das suas singulares folhas estavam alguns dos seus vizinhos, quer no seu local de origem quer na entrada do parque; um pequeno ajuntamento de tulipeiros-da-virgínia (Liriodendron tulipifera), exibindo no alto das suas copas uma profusão de pequenas e alongadas “pinhas” formadas pelas suas sementes aladas. Ao seu lado, um outro vizinho mostrava ainda as suas belas cores outonais, em tons de cobre e fogo; era uma bonita faia-europeia (Fagus sylvatica). Muito perto estava um esbelto espécime de uma bela espécie lusitana, um folhado (Viburnum tinus) que, tal como o seu amigo rafiolépis, exibia não só os seus deslumbrantes frutos outonais de tonalidade azul-metálica, mas também ainda algumas das suas graciosas flores brancas.

Despedimo-nos do folhado e, não muito longe dele em dois alinhamentos arbóreos, outras folhas chamavam a nossa atenção… os característicos frutos pendurados nas copas já quase todas elas despidas deixavam adivinhar de que se trataria… a forma, o tamanho e o toque aveludado das folhas não deixavam então espaço para dúvidas, eram as folhas de uma tília-de-folhas-grandes (Tilia platyphyllos), nativa em grande parte da Europa. No final desta pequena alameda de tílias fomos encontrar uma das mais singulares plantas que podemos encontrar no Parque da Pasteleira, e o seu aspeto quase grotesco não deixará, certamente, ninguém indiferente. O que seria? Fazia lembrar qualquer coisa mais nossa conhecida, mas… seria mesmo uma aveleira? E era mesmo, só que uma muito especial! Tratava-se de uma aveleira-tortuosa (Corylus avellana ‘Contorta’), uma mutação da aveleira comum (Corylus avellana), caracterizada pelos seus admiravelmente retorcidos ramos e enrugadas folhas.

Admiravelmente surpreendidos lá seguimos viagem e, um pouco mais à frente no caminho, logo nos deparámos com três árvores de três espécies diferentes e que muito facilmente dão azo a confusão, já que as suas folhas apresentam formas muito similares: eram elas um luso bordo ou plátano-bastardo (Acer pseudoplatanus), um europeu bordo-da-noruega (Acer platanoides) e um plátano (Platanus x hispanica), filho de pais americanos e europeus. Com uma boa dose de observação e paciência, lá conseguimos descortinar algumas das diferenças existentes entre eles, particularmente ao nível das folhas, dos frutos e da casca dos seus troncos. Não muito longe, alguns asiáticos pitósporos-da-china (Pittosporum tobira) mostravam o que de melhor têm para nos oferecer no outono, os seus esféricos frutos de cor amarelo-esverdeada, que agora se abrem revelando as suas vistosas sementes alaranjadas cobertas por uma muito viscosa resina, e que estão na origem do nome do género da espécie.

A tarde algo sombria de outono era, ocasionalmente, temperada pelos doces e luminosos raios de sol que as nuvens, a custo, lá iam deixando passar. Foi numa dessas ocasiões que pudemos admirar alguma da folhagem mais colorida que nessa tarde poderíamos encontrar; os laranjas, vermelhos e púrpuras vibrantes dos norte-americanos liquidâmbares (Liquidambar styraciflua) e os dourados das bilobadas folhas do oriental ginkgo, ou nogueira-do-japão (Ginkgo biloba), que ansiosamente nos aguardavam mais à frente no caminho. Não longe deles iriámos encontrar uma reunião de esbeltas e australianas casuarinas (Casuarina equisetifolia), com a sua característica ramagem a fazer lembrar rabos-de-cavalo. Um olhar mais próximo e atento revelou as suas minúsculas folhas, as suas pequenas e pontiagudas pinhas, bem como as suas diminutas, delicadas e avermelhadas flores femininas.

Descendo em direção ao lago, fomos, novamente, “jogar o jogo das comparações” entre espécies semelhantes. Aprendemos assim a distinguir um italiano choupo-da-lombardia (Populus nigra var. italica) de um português choupo-branco-fastigiado (Populus alba var. pyramidalis) através da casca, um freixo-europeu (Fraxinus excelsior) de um nativo freixo-de-folhas-estreitas (Fraxinus angustifolia) através das gemas e ainda entre um dos nossos amieiros (Alnus glutinosa) e um amieiro-de-nápoles (Alnus cordata) através das folhas, das flores masculinas e dos frutos. Pelo meio de tanta comparação, repousámos os olhos sobre as bonitas e rubras tonalidades outonais de um europeu noveleiro (Viburnum opulus), também conhecido por bola-de-neve, devido à sua profusa e globosa floração primaveril.

Com a visita a aproximar-se do fim, fomos ainda apreciar algumas das espécies mais representativas do parque: magníficos sobreiros (Quercus suber) exibindo ainda a sua cortiça original, escultural, rugosa e ondulada, altíssimos pinheiros-bravos (Pinus pinaster), possivelmente introduzidos em Portugal pelo rei D. Dinis, e majestosos pinheiros-mansos (Pinus pinea), produtores dos saborosos pinhões tão comuns à nossa mesa.

Caminhando encosta acima, fomos ao encontro de mais três Quercus; o primeiro o carvalho-negral (Quercus pyrenaica), mais facilmente avistado no interior norte nacional, coberto por bugalhos e exibindo ainda as suas recortadas e aveludadas folhas, o segundo o carvalho-alvarinho (Quercus robur), natural do noroeste atlântico português e, por fim, o terceiro, um muito invulgar pelas nossas paragens carvalho-da-turquia (Quercus cerris), do qual pudemos observar as suas folhas triangularmente lobadas e as suas bolotas exibindo uma farta “cabeleira”.

A visita terminaria com chave de ouro, junto a uma das mais bonitas e emblemáticas espécies da flora portuguesa; o azereiro (Prunus lusitanica). Este reservava-nos, também, uma surpresa. Se, por um lado, dos seus frutos de final de verão/início de outono nem sinal, por outro, concedeu-nos ainda a honra de contemplar a sua belíssima, e completamente fora de época, floração, composta por longos cachos preenchidos por dezenas de pequeninas flores brancas.

Os nossos amigos verdes, de acordo com a época festiva que se avizinha, juntar-se-ão agora em paz e sossego às respetivas famílias e outros amigos. Voltarão, no entanto, a receber-nos muito em breve, já no novo ano que a passos largos se aproxima. Será no dia 22 de janeiro, numa visita entre o Jardim de São Lázaro, a Praça da Alegria e o Cemitério do Prado do Repouso.

Bom Ano 2022!

FOTOS | Créditos: ©2021CRE.Porto.malmeida; ©2021João_Tenente_de_Seixas

A “Rota das Árvores do Porto” é uma iniciativa do Município do Porto integrada no FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto, e enquadra-se no projeto Florestas Urbanas Nativas no Porto – FUN Porto. Colabora o Arquiteto João Almeida.