Foi na tarde do passado dia 16 de outubro que teve início a terceira edição da Rota das Árvores do Porto, que nos levará a percorrer muitos dos mais emblemáticos espaços verdes da cidade, detentores de uma coleção botânica de extraordinária diversidade e beleza, repleta de curiosidades, pormenores, histórias, lendas e mais, escondidas à vista de todos e que irão, aos poucos, ser reveladas no decorrer das dez visitas que compõem esta rota, ao longo de dez meses, acompanhando as quatro estações do ano.

A primeira visita teve lugar nos Jardins do Palácio de Cristal, concebidos, em 1864, pelo arquiteto paisagista alemão Emílio David e inaugurados a 18 de setembro de 1865, aquando da abertura da Exposição Internacional do Porto, a primeira do seu género a acontecer no nosso país. Pela sua dimensão, desenho e diversidade botânica até então inexistentes em espaços de uso público na cidade, estes belos e frondosos jardins depressa se tornariam no mais concorrido espaço de recreio público portuense, popularidade essa que se mantém até aos nossos dias.

Passados que estão mais de 150 anos desde a sua inauguração, pelo jardim encontram-se ainda diversos elementos arbóreos e arbustivos desse tempo, bem como muitos outros que, desde então, têm vindo a enriquecer a sua coleção botânica.

A visita teve início no jardim formal à entrada dos jardins, agora designado “Jardim Emílio David”, em homenagem ao seu autor, na sombra de um imenso exemplar da primeira espécie a ser visitada: a araucária-de-Norfolk (Araucaria heterophylla), uma espécie nativa do Pacífico, mais concretamente da ilha de Norfolk, na Austrália. Neste espaço pudemos, não só, observar a espécie em vários estágios de crescimento, mas também as grandes pinhas que produz que, quando maduras, libertarão os seus pinhões, que são comestíveis.

Depois, e logo ali ao lado, visitámos um imponente e aromático cedro-branco, ou cedro-do-Oregon (Chamaecyparis lawsoniana), nativo da América do Norte e cujos grandes braços como que nos convidam a abraçá-lo. Ainda na orla que a nascente acompanha este jardim, fomos conhecer um nativo dos nossos antípodas, um metrosídero (Metrosideros robusta), uma espécie geralmente hemiepífita, ou seja, que germina nos ramos de uma planta hospedeira, agora já sem os seus distintivos pompons de flores vermelhas que exibe no verão. Mais à frente, deparamo-nos com as aromáticas e profusas flores de uma camélia (Camellia sasanqua) acompanhada por uma bonita árvore-de-júpiter (Lagerstroemia indica) — ambas nativas de paragens mais a oriente — cujas folhas que se metamorfoseavam já de verde para laranja e vermelho, anunciando o outono. Tempo houve ainda para reparar numa pequena árvore, de aparência bastante exótica, no centro do jardim: uma araucária-do-chile (Araucaria araucana), a espécie que viria a dar o nome ao género Araucaria.

Caminhando em torno do Pavilhão Rosa Mota encontrámos um grupo de ainda relativamente jovens cedros-do-líbano (Cedrus libani), exibindo a sua copa de formato piramidal. Nos seus ramos, para além de alguns pavões, exibiam-se, em grande profusão, pequenos e cilíndricos cones masculinos, libertando diáfanas nuvens amareladas de pólen. Aos nossos pés, espalhavam-se as escamas dos cones femininos, e as delicadas sementes aladas que estas protegem e albergam.

Um pouco mais abaixo, à entrada do roseiral, fomos admirar um braquiquito (Brachychiton populneus) nativo da Austrália e também conhecido como “árvore garrafa” pelas suas capacidades em armazenar água. Dele pudemos observar, para além da sua grandeza, as suas folhas, quase sempre verdes e semelhantes às dos choupos, e ainda algumas das suas diminutas flores em forma de sino. Continuando a descer, observámos as distintivas folhas de um magnífico metrosídero (Metrosideros excelsa), também nativo da Nova Zelândia como o robusta que havíamos visitado anteriormente e, na sua sombra, um gigantesco e contorcido cato-do-Perú (Cereus peruvianus), conhecido pelas comestíveis “maçãs” que produz. À data da nossa visita não havia sinal das ditas maçãs, só das grandes flores brancas que lhes dão origem, e que estavam fechadas, pois a sua floração é noturna. Um pouco ainda mais abaixo, no Jardim dos Sentidos, visitámos uma planta que muito nos apela ao paladar: a caneleira (Cinnamomum verum), nativa do Sri Lanka.

Voltando agora a subir a encosta, e sem termos de caminhar muito, bastou dirigir os olhos para o céu para nos depararmos com as mais conhecidas “irmãs” que habitam estes jardins; as sete magníficas palmeiras-de-leque-do-méxico (Washingtonia robusta), elegantes e altíssimas, “dançando” ao sabor do vento, que nos olham desde o alto dos seus quase 25 metros de altura.

Daí, e caminhando agora sempre com vista para o Douro, embrenhámo-nos no bosque que cobre a encosta virada à Ponte da Arrábida e ao Atlântico, para conhecer mais uma mão-cheia de árvores, tanto da flora autóctone como da alóctone. A primeira foi uma belíssima faia-europeia (Fagus sylvatica), cravada no solo por uma verdadeira parede de raízes, depois um choupo-branco (Populus alba) com os seus peculiares “diamantes” negros desenhados no alvo tronco e ainda um bordo (Acer pseudoplatanus), um dos dois áceres da nossa flora nativa — sendo o outro a zelha (Acer monspessulanum) —, cujas folhas apresentam notáveis semelhanças com as do bordo-da-noruega (Acer platanoides). Logo de seguida aprendemos a ver as diferenças entre o “nosso” castanheiro (Castanea sativa), e aquele que dizem vir do oriente; o castanheiro-da-índia (Aesculus hippocastanum). Na verdade, a origem do primeiro situa-se na região que se estende entre os Balcãs e o Cáucaso e a do segundo na Grécia, Albânia e Bulgária.

Regressando já ao ponto de partida, caminhámos ao longo da Avenida das Tílias, composta por vários alinhamentos destas grandes árvores nativas da Europa. Aqui pudemos observar diversas espécies, nomeadamente a tília-prateada (Tilia tomentosa) e a tília-de-folhas-grandes (Tilia platyphyllos). Mais tempo houvesse e tomávamos um chá, de tília, naturalmente!

Reunimo-nos depois, quase em jeito de despedida, sob a delicada e rendilhada copa de um frondoso bordo-do-japão (Acer palmatum), composta por milhares de pequeninas folhas “estreladas”, algumas delas exibindo já as cores vibrantes que os tornam facilmente reconhecíveis nesta altura do ano. A despedida veio depois, junto a um outro bordo e de regresso ao Jardim de Emílio David; um magnífico e escultural bordo-do-japão-de-folha-recortada (Acer palmatum ‘Dissectum’), um dos muitos que podemos admirar neste espaço.

E assim se passou uma bela tarde nos Jardins do Palácio de Cristal, em amena conversa com estes e tantos outros veneráveis amigos verdes, e que continuará a 13 de novembro, com os amigos e as amigas do Parque das Virtudes.

FOTOS | Créditos: ©2021CRE.Porto.amourao; ©2021CRE.Porto.FranciscaMiranda; ©2021CRE.Porto.malmeida; ©2021João_Tenente_de_Seixas

A “Rota das Árvores do Porto” é uma iniciativa do Município do Porto integrada no FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto, e enquadra-se no projeto Florestas Urbanas Nativas no Porto – FUN Porto. Colabora o Arquiteto João Almeida.