Para os habitantes de Paços de Brandão, a Casa da Portela faz parte do quotidiano, seja pela elegância da sua frontaria seja pela presença forte que a casa teve na história desta Vila do Concelho de Santa Maria da Feira. Fundada no século XVII (sabe-se que em 1629 a casa era propriedade de Francisco Saraiva e sua mulher Britis Aranha e que em 1788 foi adquirida pela família dos Pintos e Almeidas), a casa fazia parte duma quinta de grandes dimensões que tinha campos e pinhais. Neste momento, além de estar classificada como imóvel de interesse público, ostenta uma bela coleção de espécies exóticas e duas árvores classificadas.

Foi disto e muito mais que nos falou a nossa anfitriã, Graça Saraiva – professora universitária, arquiteta paisagista e digna representante da história da Casa da Portela – no passado dia 3 de junho, na segunda visita da Rota das Árvores Senhoriais de Santa Maria da Feira.

A visita começou e acabou no curioso pátio trapezoidal, de paredes cobertas de heras e chão lajeado a granito. Aqui decorreu uma cena do filme “Amor de Perdição”. Depois das boas-vindas, começámos pela primeira árvore notável deste jardim, uma nogueira-negra (Juglans nigra) com mais de 150 anos e um porte monumental, que foi abraçada por várias crianças (e adultos!). Esta nogueira é uma das duas árvores classificadas da propriedade.

A visita continuou pelos jardins que rodeiam a casa, onde foi possível observar diferentes variedades de camélias, uma das imagens de marca do jardim, assim como os labirintos de buxo. De todas as notáveis espécies que vimos gostaríamos de destacar o Euonymus japonicus de grande porte e tronco escultórico.

Foi com agrado que percebemos que o espaço envolvente à casa está em permanente evolução e que o jardim tem novas adições, como é o caso das novas cameleiras. Ao contrário da outra árvore classificada, que ocupa um posto mais reservado, a araucária-de-norfolk (Araucaria heterophylla) acompanha a fachada da casa há mais de 150 anos e atrai as atenções da vizinhança pelo seu porte alto e elegante. E mais alta seria, não fosse uma tempestade que lhe roubou o ápice.

A visita ficou marcada por uma atuação musical da Academia de Música de Paços de Brandão e por uma simpática merenda, com prova de uma bela sangria das uvas da casa, assim como uma compota da mesma, acompanhada da tradicional regueifa doce das Terras da Feira.

À longa história da Casa junta-se um acontecimento ocorrido na altura da Guerra Civil Portuguesa, que opôs liberais e miguelistas: um soldado miguelista foi gravemente ferido numa contenda no local e ficou alojado na casa, acabando por morrer. O povo chamou-lhe santo e criou-lhe devoção. E por isso há uma Capela, ou Alminha, construída em 1826, junto à casa.

Também é interessante relembrar que Paços de Brandão chamou-se noutras épocas “Palatiolo de Blandom” (Fernando Blandom fazia parte do séquito do conde D. Henrique e, pela sua bravura no combate contra os mouros, foi donatário de uma terra denominada Villa Palatiolo).

FOTOS | Créditos: ©2017CRE.Porto rruiz, ©2017CRE.Porto malmeida, ©2017CRE.Porto mpinto e ©2017 mrodrigues

A “Rota das Árvores Senhoriais de Santa Maria da Feira” é uma iniciativa do Município de Santa Maria da Feira integrada no FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. Conta com a parceria da Quinta da Murtosa, da Casa da Portela e da Quinta do Seixal e o envolvimento da Academia de Música de Paços de Brandão, da Escola Secundária de Santa Maria da Feira, da psicóloga e terapeuta de som, Cátia Duque, da cantora lírica Ana Maria Pinto e do guitarrista Rui Namora. Destaca-se a participação voluntária dos especialistas que acompanham as visitas: Luis Côrte-Real, Maria da Graça Saraiva, Paulo Alves e João Almeida.

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