Foi na ensolarada tarde do passado dia 8 de maio que teve lugar a sétima visita da terceira edição da Rota das Árvores do Porto, desta feita calcorreando os caminhos de dois bonitos — e tão diferentes — espaços localizados na parte mais oriental da cidade: o Viveiro Municipal e o Parque Oriental da Cidade. A visita teve início junto ao imponente portão férreo do viveiro, a setecentista Quinta das Areias, adquirida pelo município em 1937 e que aí viria a instalar os seus viveiros; um verdadeiro berçário para os muitos milhares de flores multicolores que sazonalmente embelezam os espaços públicos da cidade.

Quem nos recebeu, tal e qual uma gigantesca sentinela, foi uma tília-prateada (Tilia tomentosa), uma nativa do leste da Europa e da Turquia mas que há muito assentou arraiais pelo nosso país. Exibia com vaidade as suas bonitas e bicolores folhas; brancas de um lado e verdes do outro, bem como as suas elegantes brácteas e flores bem conhecidas das chávenas de chá que todos temos lá por casa… Sem tempo para o chá, seguimos viagem em direção à próxima paragem, onde fomos conhecer um muito heterogéneo e cosmopolita grupo que nos aguardava. O primeiro elemento do grupo, um bordo-do-japão-de-folhas-recortadas (Acer palmatum var. dissectum), nativo do Japão, mas também da China e da Coreia, mostrava, entre a sua farta, delicada e recortada vestimenta, pequenas e rosadas sâmaras; os pares de frutos tão característicos dos bordos. Num instante, da Ásia seguimos até à Europa, para apreciarmos as bonitas e invulgares folhas acobreadas, sedosas e ciliadas de uma faia-de-folhas-vermelhas (Fagus sylvatica ‘Atropurpurea’) que se encontrava muito bem acompanhada por um monumental e multicaule azevinho (Ilex aquifolium), ostentando já os seus muito afamados frutos, apesar de ainda verdes e meio escondidos por entre a aguçada folhagem. Completando o grupo estava um ilustre nativo da Amazónia brasileira, um araçá-vermelho (Psidium cattleyanum), exibindo o seu tronco manchado e decorativo bem como as suas lustrosas folhas. Muito em breve presenteará quem por ali passe com as suas bonitas e aromáticas flores brancas e, mais tarde, lá para o outono, com os seus doces e sumarentos frutos.

Um pouco mais à frente, outro pequeno e diversificado grupo nos esperava, encabeçado por uma belíssima, e europeia, faia-tricolor (Fagus sylvatica ‘Tricolor’) que, como o nome muito bem indica, nos mostrava as suas bonitas e tricolores folhas, matizadas a rosa e branco. Meio escondido em tão esbelta folhagem encontrava-se um asiático cóculus (Cocculus laurifolius), exibindo as suas lustrosas folhas — semelhantes às do nosso loureiro (Laurus nobilis) — e nas quais se podiam ver três muito bem marcadas e inconfundíveis nervuras, tão características da espécie. Ali perto vegetava uma deveras invulgar australiana; uma banksia-dos-pântanos, ou de-folhas-largas (Banksia robur), da qual pudemos observar — e tocar — as suas enormes, rígidas e aveludadas folhas, com um pronunciado veio central amarelo. Embora muito imaturas, começavam já também a ver-se as suas características inflorescências, então ainda de uma tonalidade acobreada. Fazendo-lhe sombra e companhia estava uma vizinha asiática mais nossa conhecida; uma grande e muito aromática canforeira (Cinnamomum camphora) em cuja copa de um verde vibrante se podia observar uma miríade de pequeninas flores brancas.

Após alguns momentos de muito justa contemplação, apresentámos as nossas despedidas e lá seguimos viagem já que um terceiro e último grupo havia ainda que por ali visitar naquela tarde.

Após curta caminhada, lá fomos recebidos por uma personalidade oriental bem nossa conhecida; uma amoreira-branca (Morus alba). Sendo uma espécie geralmente dioica, ou seja, com exemplares machos e fêmeas em árvores diferentes, havia então que tentar descobrir de que género seria esta à nossa frente… e não foi necessário procurar muito, já que por entre as folhas eram bem visíveis muitos dos seus característicos frutos, exibindo ainda os seus longos pistilos brancos. Tratava-se, assim, de uma senhora amoreira, cujos doces frutos farão as delícias de quem por ela passar lá mais para o final do verão. Fazendo-lhe companhia estava uma outra nativa da China, uma paulónia ou árvore-da-imperatriz (Paulownia tomentosa). Esta bonita árvore, de folhas grandes e aveludadas, tal como o epíteto específico tomentosa faz adivinhar, é mais conhecida entre nós pela sua vistosa floração primaveril de coloração lilás. Apesar de, naquele dia, esta se encontrar já praticamente no fim, ainda nos foi possível admirar algumas das flores, de inegável beleza. Contrariamente à paulónia, um pouco mais à frente fomos encontrar uma belíssima silindra (Philadelphus coronarius) no auge da sua floração primaveril. Esta nativa do sudeste da Europa até ao Cáucaso cobre-se de uma constelação de flores brancas nesta altura do ano; um verdadeiro deleite não só para os olhos como também para o nariz, uma vez que libertam um muito agradável e doce perfume. Sem aroma, mas com muito sabor, estava também por ali uma feijoa (Acca sellowiana). Apesar dos frutos — de sabor muito peculiar — desta pequena árvore nativa do sul da América do Sul estarem maduros apenas no outono, não há forma de passar despercebida na primavera, pois é agora que se encontra engalanada pelas suas bonitas flores, com numerosos e longos estames avermelhados e pétalas rosadas, estas últimas comestíveis e de sabor adocicado. De frutos violáceos e também comestíveis, embora um pouco ácidos, escondia-se por entre a vegetação uma outra nativa da China e de Taiwan, de folhas semelhantes às do azevinho, muito rígidas e espinhosas; tratava-se de uma maónia (Mahonia japonica), uma espécie com alguma presença nos nossos jardins, muito devido à sua copiosa floração composta por longas panículas de flores amarelas. De flores de uma tonalidade também ela amarelada, estava por ali um muito digno tulipeiro-da-virgínia-de-folhas-variegadas (Liriodendron tulipifera ‘Aureomarginatum’), uma variedade de origem germânica destas grandes árvores norte-americanas, que por estes dias se nos apresentam com as suas frondosas copas cobertas por pequenas e belas “tulipas”.

E com o passeio pelo viveiro quase a chegar ao fim, houve ainda a oportunidade de admirar — e cheirar — as flores de um manacá (Brunfelsia pauciflora), uma nativa do Brasil, muito sugestivamente também conhecida como “ontem, hoje e amanhã”, pelo facto de as suas flores mudarem de cor, de púrpura/violeta quando abrem até ao branco na maturidade. Ao seu lado, e competindo pela atenção dos nossos narizes, estava um arbusto-banana ou magnólia-de-cheiro-a-banana (Michelia figo), uma pequena árvore nativa da China, detentora de flores deliciosamente aromáticas.

Findava, assim, o nosso tempo dedicado ao Viveiro Municipal. O passeio, e as conversas, continuariam ali bem perto, no ainda jovem Parque Oriental da Cidade, aberto para o nosso usufruto há pouco mais de uma década, mas já repleto de motivos para uma visita. Sem mais demoras, partimos, então, à descoberta de algumas das muitas árvores que por ali podemos encontrar.

Começámos por comparar o nosso bordo, padreiro ou plátano-bastardo (Acer pseudoplatanus), de folhas semelhantes às do plátano (Platanus x hispanica), com a sua variedade de folhas púrpuras (Acer pseudoplatanus ‘Atroporpureum’), cujas folhas, tal como nome indica, apresentam uma bonita tonalidade purpúrea na sua página inferior. Não muito longe, e já junto às margens do rio Tinto, foi impossível ficar indiferente à vistosa floração de um outro ilustre membro da flora nacional; um sabugueiro (Sambucus nigra), abrigado pela sombra de um grupo de imensos choupos-do-canadá (Populus x canadensis), um híbrido entre o nosso choupo-negro (Populus nigra), que por ali também se encontrava, e o algodão-americano (Populus deltoides), nativo da América do Norte.

Dali fomos ainda a tempo de observar as coloridas e exuberantes florações de dois castanheiros-da-índia; o europeu, nativo dos Balcãs e da Grécia, de flores brancas (Aesculus hippocastanum) e o castanheiro-da-índia-de-flores-rosadas (Aesculus x carnea), um híbrido entre o Aesculus hippocastanum e o Aesculus pavia, este último um nativo do sudeste dos Estados Unidos da América. Entre os dois, e não querendo ficar atrás, um europeu freixo-florido (Fraxinus ornus), exibia também a sua plumosa e aromática floração de alva coloração.

Já em jeito de despedida, fomos ainda espreitar outros dois europeus, mas não nativos de Portugal: um bordo-campestre (Acer campestre) com as suas bonitas folhas com cinco lóbulos e pares de sâmaras formando um ângulo de quase 180° e, finalmente, um carpino, ou carpa-europeia (Carpinus betulus) de folhas delicadas, fazendo lembrar as das faias ou das bétulas.

Com a tarde já avançada, terminava assim esta muito preenchida visita pela zona nascente da cidade. Ficou, no entanto, a promessa de a continuar, mais a poente, lá para os lados da Boavista, já no dia 28 de maio.

FOTOS | Créditos: ©2022CRE.Porto.malmeida; ©2022CRE.Porto.amourão

A “Rota das Árvores do Porto” é uma iniciativa do Município do Porto integrada no FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto, e enquadra-se no projeto Florestas Urbanas Nativas no Porto – FUN Porto. Colabora o Arquiteto João Almeida.