Com origens que remontam à segunda década do século XVIII, a antiga Quinta do Covelo, fundada por Pais de Andrade, fidalgo da Casa Real, localiza-se num dos pontos mais altos da cidade do Porto, culminando a sensivelmente 150 metros de altura, situação essa que estará na origem de um dos nomes pelos quais chegou, outrora, a ser também conhecida: Quinta da Belavista. Manuel José do Covelo viria a ser o seu segundo proprietário, ficando o seu nome, desde então, associado à propriedade. A quinta, ocupando uma localização estratégica, e então ainda nos arrabaldes da cidade, viria a ser fortemente disputada entre liberais e absolutistas durante o Cerco do Porto (1832–1834), permanecendo a casa e a capela em ruínas desde esses tempos conturbados. Dos antigos jardins mandados construir por Manuel José do Covelo, muito pouco sobreviveria até aos nossos dias.

Na tarde do passado dia 19 de março, dia dedicado a todos os “Josés” do mundo e com a primavera já a bater à porta, aventurámo-nos a explorar este outro oásis portuense, para onde chegou a estar prevista, já no século XX, a construção de um hospital para tuberculosos, projeto esse que não chegaria a ver a luz do dia.

E foi logo junto à entrada do agora Parque do Covelo que encontrámos muitas das espécies que iríamos conhecer durante a visita. A primeira foi um bordo-negundo, ou ácer-de-folha-de-freixo (Acer negundo), um nativo da América do Norte muito comum na cidade e que se distingue de todos os outros áceres, ou bordos, pelas suas folhas compostas. Nesta altura do ano, no entanto, são as suas inúmeras e singelas flores, cobrindo por completo as suas copas, que prendem a nossa atenção. No caso deste bordo, a atração é dupla, já que sendo uma espécie dioica existem árvores masculinas e femininas, com florações distintas. A primeira que vimos era masculina, mas não muito depois houve também a oportunidade de observar a floração de um exemplar feminino, que não muito longe acompanhava a primeira. Dali, e passando por um grupo de antigas japoneiras (Camellia japonica) remanescentes, talvez, do antigo jardim da quinta, fomos ao encontro de um colorido grupo de azáleas (Rhododendron spp.), muito possivelmente híbridos criados entre as muitas espécies norte-americanas, europeias e asiáticas. Junto delas aprendemos a distingui-las dos rododendros, através, por exemplo, da contagem dos seus estames, bem como que se, por um lado, todas as azáleas são rododendros, por outro, o contrário já não será, necessariamente, verdade.

Regressando à companhia dos bordos-negundos, fomos então conhecer alguns dos seus vistosos companheiros que por ali se encontravam. Exibindo uma copa rendilhada, repleta de delicadas folhas profundamente lobadas de um verde quase eletrizante, estava um bordo-do-japão (Acer palmatum), nativo, como o nome bem sugere, do país do sol nascente, mas também da China e da Coreia do Sul. Espreitando por entre as suas folhas, revelava também uma miríade de pequeninas flores de cor púrpura. Igualmente originária da China e do Japão vegetava uma palmeira-da-china (Trachycarpos fortunei), apresentando o seu muito característico espique, coberto por fibras acastanhadas. Sendo, tal como o bordo-negundo, uma espécie dioica, e na falta de flores para nos ajudarem a descobrir para que género da espécie estaríamos a olhar, valeram-nos alguns frutos da época passada, que espreitavam por entre as suas folhas em forma de leque, para chegarmos à conclusão de que se tratava de uma senhora palmeira! Oriunda do mesmo canto do globo terrestre que as duas anteriores exibia-se ainda uma exuberante sempre-noiva (Spiraea cantoniensis), carregadíssima de bonitas flores brancas. Ensombrando e acompanhando o grupo estava um gigante, um dos maiores que pelo Covelo se podem encontrar. A seu tempo, exibirá grandes, vistosas, carnudas e muito aromáticas flores brancas; então, deixou-nos apenas admirar as suas grandes e coriáceas folhas, cobertas ainda por um denso veludo de cor acobreada ou ferrugínea. Tratava-se, naturalmente, de uma imensa magnólia-de-flores-grandes (Magnolia grandiflora), uma nativa do sudeste dos Estados Unidos da América.

Despedimo-nos deste simpático grupo e caminhámos em direção à antiga mata da quinta. Ainda antes de por ela nos embrenharmos, houve lugar a uma breve paragem para observar um pequeno arbusto, ainda quase totalmente despido de folhas, de uma espécie muito representativa da nossa flora; uma aveleira (Corylus avellana). Este, à partida, não parecia ter muito para nos mostrar… no entanto, e como muitas vezes nem sempre aquilo que parece é, um olhar minucioso e atento viria a identificar as suas quase impercetíveis, e muito curiosas, flores femininas, das quais se observam apenas os muitos carpelos, semelhantes a uma pequena “crista” de cor vermelha.

Já em plena mata, viríamos a conhecer um oleastro, ou groselha-dos-açores (Ealeagnus umbellata). Nativo da região que se estende entre os Himalaias e o Japão, as folhas e os raminhos desta espécie encontram-se cobertas por minúsculas escamas estreladas, que lhes dão uma belíssima, e invulgar, aparência prateada. Como se tal não bastasse, nesta altura do ano encontra-se em plena floração, exibindo pequenas flores amarelo-esbranquiçadas, muito aromáticas, que se metamorfosearão em frutos vermelhos e roliços no outono. Um pouco mais à frente no caminho fomos ao encontro de dois nativos do Pacífico norte-americano: um cedro-branco (Chamaecyparis lawsoniana) e uma cultivar de tuia-gigante (Thuja plicata ‘Zebrina’). À partida semelhantes, uma rápida inspeção à página inferior das ramagens bastaria para clarificar qualquer dúvida que surgisse já que, a primeira, apresenta um padrão de cor esbranquiçada em forma de “x” entre as folhas e, a segunda, um padrão de cor semelhante, mas com um formato semelhante ao de uma borboleta. A segunda exibe ainda manchas de uma tonalidade amarelo-pálida nas ramagens, que estão na origem da designação ‘Zebrina’.

Após esta visita às costas do Pacífico Norte, rumámos em direção ao Pacífico Sul, desta vez para observar uma grande árvore que, para nosso infortúnio, se transformou numa das piores invasoras no nosso país: uma falsa-árvore-do-incenso (Pittosporum undulatum), nativa da Austrália, como tantas outras que por cá assentaram arraiais, e que por estes dias exibe uma profusa e muito aromática floração. Muito bela, sem dúvida alguma, mas igualmente muito problemática. Segundo na direção da entrada do parque, fomos ao encontro daquele que será um dos maiores pilriteiros (Crataegus monogyna) existentes na cidade, nativo e de natureza bem mais afável do que o exemplar anterior, altíssimo e muito elegante, detentor de uma imensa cúpula então já desprovida da sua floração primaveril.

A curta distância, já nos antigos terrenos agrícolas da quinta, e onde se situa hoje um parque infantil, fomos encontrar uma grande, e pontiaguda, iúca-pata-de-elefante (Yucca elephantipes), uma nativa do México e da América Central muito bem adaptada ao nosso território. De porte já muito considerável — é a maior de todas as iúcas, sendo, por esse motivo, também designada por iúca-gigante — exibia as tão características bases dos troncos dilatadas, semelhantes às patas de um elefante, que estão na origem do seu nome comum. No verão, produzirá grandes espigas de flores brancas, carnudas e cerosas, que são consumidas nos países de origem da espécie. É a flor nacional de El Salvador. Não lhe fazendo ainda sombra estava um outro futuro gigante, uma sequoia (Sequoia sempervirens). Esta nativa das brumosas costas do Pacífico da Califórnia e do Oregon, onde atinge alturas vertiginosas, exibia por todo o seu manto sempre-verde uma série de pequenos e esféricos ornamentos: cones poliníferos masculinos, cones femininos, verdes e ainda fechados, e cones femininos castanhos, já maduros, de onde haviam “voado” já as suas ainda mais pequenas sementes. Ao seu lado estavam vários exemplares de ameixoeira-de-jardim (Prunus cerasifera ‘Pissardii’), nativa de grande parte do território que se estende entre os Balcãs e a China. Por estes dias, passada que estava a sua profusa floração invernal, exibiam já a sua característica folhagem de tons acobreados e os seus pequenos frutos que farão as delícias não só da passarada, mas também de um outro humano que se lembre, ou saiba, que são comestíveis. Apesar do tempo correr, não nos detivemos, e fomos até ao outro lado do mundo! Lá ficaríamos a conhecer um pouco mais sobre uma planta tão comum nas nossas hortas e jardins e endémica da Nova Zelândia; a fiteira (Cordyline australis). O seu nome mais comum entre nós deriva do facto de as suas folhas serem utilizadas em trabalhos agrícolas ou de jardinagem para atar. No entanto, é também conhecida por outros nomes bem curiosos, como árvore-da-couve ou árvore-repolho, e cuja origem reside no facto de partes das suas folhas serem consumidas pelos maoris, o povo nativo dos nossos antípodas. Produzem, tal como as iúcas, grandes espigas de flores brancas, embora de menor dimensão, e que se começam já a ver aqui e ali. Terminaríamos o passeio pelo outro lado do mundo, ainda que um pouco mais a norte, num território já muito visitado ao longo da visita — o Japão —, admirando um bonito exemplar de criptoméria-elegante (Cryptomeria japonica ‘Elegans’), uma cultivar da criptoméria-do-japão (Cryptomeria japonica), mas da qual se distingue pelas suas folhas que se mantêm sempre juvenis ao longo da sua vida adulta, macias ao toque e brilhantes. A sua característica mais notável será, no entanto, o facto de mudarem de cor com a chegada do outono, para um bonito vermelho-acastanhado, e depois, com a chegada da primavera, reverterem para verde, sem nunca caírem da árvore.

Findava assim a visita ao bonito Parque do Covelo, mas a aventura do deslumbramento e da descoberta da flora que povoa os parques e jardins da cidade está ainda longe de terminar… continuará no dia 23 de abril, no Parque Oriental da Cidade e no Viveiro Municipal.

FOTOS | Créditos: ©2022CRE.Porto.malmeida; ©2022João_Tenente_de_Seixas

A “Rota das Árvores do Porto” é uma iniciativa do Município do Porto integrada no FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto, e enquadra-se no projeto Florestas Urbanas Nativas no Porto – FUN Porto. Colabora o Arquiteto João Almeida.