O ano era o de 1833, o Porto estava sitiado e D. Pedro IV estava na cidade. Possivelmente saudoso das frondosas árvores que à data ensombrariam já o Passeio Público Lisboeta, e não havendo no Porto nada que se lhe comparasse, manda construir, em tempos conturbados, um oásis que viria a ser o primeiro jardim municipal da cidade, o Jardim de São Lázaro, desenhado por João José Gomes, e inaugurado logo um ano depois, em 1834.

E foi neste jardim, à sombra refrescante de uma bonita amargoseira (Melia azedarach), árvore nativa da Ásia e da Oceânia, que teve início a terceira visita da Rota das Árvores do Porto. Uma visita que de amargo nada teve mas que foi, pelo contrário, doce como vinho do Porto e refrescante como as águas do Rio Douro.

Feitas que estavam as devidas apresentações, lá partimos à descoberta de outras árvores e de outros continentes; pois neste pequeno jardim todos eles estão representados. E a primeira paragem foi exatamente no seu centro. Em torno do lago circular que aí se encontra, marca presença um conjunto de 12 magníficas, e classificadas, magnólias-de-flores-grandes (Magnolia grandiflora), espécie norte-americana nativa do sudeste dos Estados Unidos. Possivelmente plantadas aquando da construção do jardim, têm hoje quase 16 m de altura, o que as torna das maiores e mais altas que a cidade tem para oferecer. E, sendo esta a sua época de floração, não nos desapontaram; aqui e ali, por entre as suas folhas lá espreitavam algumas das “flores grandes” que dão o nome à espécie.

Logo ao lado admirámos uma Magnólia-de-Soulange (Magnolia x soulangeana) e dali seguimos até ao continente africano, para admirar os dois majestosos cedros-do-Atlas (Cedrus atlantica) que por ali residem, nesta altura do ano carregados de bonitos cones verdes, e das sementes para a próxima geração. Já em rota para o próximo destino da tarde, não deixámos também de ver as muitas camélias (Camellia japonica), asiáticas e tílias (Tilia sp.), europeias, que embelezam este romântico jardim.

Depois de uma breve caminhada sob as muitas tílias-prateadas (Tilia tomentosa) e outras que ensombram a Av. Rodrigues de Freitas, chegámos aos portões do cemitério do Prado do Repouso, antiga Quinta de Recreio de bispos do Porto, onde pudemos apreciar dois bonitos, e pouco comuns na cidade, jerivás (Syagrus ramanzoffiana).

Após breve viagem pelas ruas da cidade Invicta, chegámos ao Parque de São Roque, antiga Quinta da Lameira, propriedade adquirida pela Câmara Municipal do Porto à família Cálem em 1979 e desde então um dos principais espaços verdes da zona oriental da cidade. A visita começou pelo topo da propriedade, a antiga mata, descendo suavemente até à antiga casa de habitação, construída em 1792. Ao longo do percurso pudemos apreciar diversos elementos característicos do romântico ainda existentes no jardim, como lagos, pontes, cascatas grutas e miradouros, mas também muitos dos seus mais ilustres habitantes. E foram eles cedros-do-Líbano (Cedrus libani), eucaliptos (Eucalyptus globulus e robusta), carvalhos-americanos (Quercus rubra), majestosas canforeiras (Cinnamomum camphora), carvalhos-escarlate (Quercus coccinea), “humildes” palmeiras-anãs (Chamaerops humilis), frondosas faias-vermelhas e tricolores (Fagus sylvatica ‘Atroporpurea’ e ‘Tricolor’), pinheiros-brancos (Pinus strobus), magnólias-de-flores-grandes (Magnolia grandiflora), entre tantas outras.

À saída, já com o final da visita a aproximar-se, houve ainda tempo para uma visita imprescindível a uma belíssima, e rara, araucária-do-Chile (Araucaria araucana). Será certamente por estas alturas a maior das poucas que se encontram na cidade, e que por ali vai sobrevivendo, num terreno adjacente ao Parque de São Roque. Esperemos que por muitos anos mais.

Chegámos, por fim, ao destino final da tarde; o magnífico Palácio do Freixo. Mandado construir por D. Jerónimo de Távora e Noronha, é Monumento Nacional e uma das obras-primas do barroco nacional que Nicolau Nasoni deixou na cidade. O palácio e jardins “à italiana”, que numa série de terraços repletos de fontes e elementos escultóricos descem suavemente até à margem direita do rio Douro, estariam concluído por volta de 1754. Dos seus tempos áureos pouco terá chegado até aos nossos dias, já que foram muitas as vicissitudes pelas quais passou, mas o que ainda existe é digno de nota.

No pátio a poente do palácio, e num patamar imediatamente abaixo pudemos observar cinco árvores notáveis; uma araucária-de-Norfolk (Araucaria heterophylla), uma sequoia (Sequoia sempervirens), dois tulipeiros-da-virgínia (Liriodendron tulipifera) “gémeos” e, finalmente, uma outra raridade, a única árvore desta espécie no Porto, um imponente afrocarpus, ou podocarpo, (Afrocarpus falcatus), em vias de classificação. Esta espécie, nativa do sul do continente africano, é dioica, ou seja, apresenta exemplares masculinos e femininos. Surgiu então a dúvida: “será o afrocarpus do Porto um menino ou uma menina?” Por algum tempo se procurou mas nada se encontrou, até ao momento em que se vislumbrou uma roliça e carnuda esfera amarela, pendente dos seus ramos, um fruto… estavam tiradas as dúvidas, já que isto só podia significar uma coisa: é uma menina!

A Rota das Árvores do Porto continua no próximo dia 4 de novembro e visitaremos as Árvores da Arrábida. As inscrições abrem impreterivelmente no dia 20 outubro de 2017, às 9h00.

FOTOS | Créditos: ©2017CRE.Porto mpinto e ©2017CRE.Porto ampereira

A “Rota das Árvores do Porto” é uma iniciativa do Município do Porto integrada no FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. São parceiros da Rota das Árvores do Porto: Circulo Universitário do Porto, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Condomínio da Baronesa do Seixo, Direção Regional de Cultura do Norte (Casa das Artes), Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, Jardim Botânico do Porto, Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto e Pestana Palácio do Freixo. Colabora o Arquiteto João Almeida.

 

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