Foi no passado dia 4 de novembro que voltámos a calcorrear os belos jardins do Porto, agora já pintalgados pelo colorido do outono que, aos poucos, se vai instalando na cidade. E se antes nos maravilhámos com as belezas que o centro e a zona oriental da cidade têm para nos oferecer, os nossos olhos fixam-se agora na imponência dos jardins virados para o Douro mais atlântico, onde as brumas oceânicas são frequentes e cheira já a maresia.

Foi aqui, entre as encostas do Douro e a Rua do Campo Alegre que, no decorrer do século XIX e início do século XX, muitas famílias munidas de grande poder económico se instalaram, construindo as suas magníficas residências, sempre rodeadas de faustosos jardins. O colecionismo botânico estava em alta, e para nossa sorte e deleite, muito desse património natural sobrevive até aos nossos dias.

A quarta visita da Rota das Árvores do Porto teve então início nos jardins da antiga casa de Riba d’Ave, hoje sede da Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N). O arquiteto paisagista José Cangueiro fez as honras da casa, fazendo-nos uma introdução ao passado e ao presente da propriedade, especialmente aos seus belos jardins, onde se mantém até aos nossos dias um notável conjunto de espécies botânicas. Cheios de vontade, lá fomos à sua descoberta…

Começámos logo pelo outro lado do mundo, admirando um bonito alinhamento de altos, delicados e exóticos fetos-arbóreos (Dicksonia antarctica), nativos da Austrália e tão comuns nos jardins da cidade. Os olhos prendiam-se, no entanto, no gigante que espreitava por trás da casa; e não perdemos muito tempo em ir ao seu encontro… com 30 metros de altura e com uma copa com quase a mesma dimensão, esta majestosa árvore, uma canforeira (Cinnamomum camphora), destaca-se, naturalmente, das outras existentes no jardim. É uma espécie asiática, e da sua madeira extrai-se a tão apreciada e aromática cânfora. Encontra-se em vias de classificação e tendo pouco mais de uma centena de anos, espera-se que por aqui fique por muitos mais, pois pode viver até aos 2000.

Tanto havia ainda por descobrir neste belo jardim, e lá fomos, por entre arálias (Fatsia japonica) e seus “pompons” brancos, imponentes araucárias-de-Norfolk (Araucaria heterophylla), ginkgos (Ginkgo biloba) e magnólias-de-flores-grandes (Magnolia grandiflora), “doces” mirtilos-da-Nova-Zelândia (Syzygium paniculatum) e bordos-prateados (Acer saccharinum), delicados bordos-do-japão (Acer palmatum), “pacíficos” fetos-arbóreos-negros (Cyathea medullaris), altaneiros rododendros-arbóreos (Rhododendron arboreum), magnólias-de-Soulange (Magnolia x soulangeana), castanheiros (Castanea sativa)… e até uma bananeira (Musa sp.), carregada de um belo cacho de bananas! Aqui e ali, algumas camélias adicionavam ainda (Camellia sasanqua) e já (Camellia japonica) um bonito colorido ao jardim.

Também o medronheiro (Arbutus unedo) plantado neste jardim em 2015 no âmbito da iniciativa “Se tem um jardim temos uma árvore para si” nos mostrou o seu gosto pelo jardim, pois já tem 2,5 metros de altura e ostenta um belo cacho de flores.

Desengane-se quem achasse que a visita estava acabada, pois muito haveria ainda de ser visto antes de voltarmos ao portão da entrada… e por entre sinuosos caminhos, tempo houve ainda para admirar e aprender mais sobre o carvalho-alvarinho (Quercus robur), o falso-abeto (Picea abies), o teixo (Taxus baccata), o eucalipto-vermelho (Corymbia ficifolia), o tulipeiro (Liriodendron tulipifera) e o castanheiro-da-Índia (Aesculus hippocastanum).

Despedimo-nos dos jardins da CCDR-N, que tão bem nos acolheram, e seguimos viagem até ao próximo destino da tarde. Antes de lá chegarmos, aproveitámos para ver o panorama da foz do Douro e da Arrábida, iluminadas pela brilhante luz de um sol já quase poente, na companhia de um respeitoso tétrade; duas palmeiras-das-Canárias (Phoenix canariensis), um liquidâmbar (Liquidambar styraciflua), já sarapintado pelo seu característico vermelho outonal e uma outra gigante canforeira (Cinnamomum camphora), com 21 metros de altura, também em vias de classificação, e que muito provavelmente terá feito parte do jardim da antiga Casa do Gólgota, logo ali ao lado.

Esta antiga quinta, com amplas vistas para o rio, é hoje parte da Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto e alberga ainda algumas das mais bonitas e notáveis árvores da cidade. Sem mais demoras, lá fomos ver a sua “arquitetura”… mas não sem antes nos maravilharmos com os vermelhos intensos de uma falsa-vinha (Parthenocissus tricuspidata), que pelas gavinhas se agarrava ao muro, e com os quentes dourados de um belo plátano (Platanus x hispanica) junto à entrada.

Já no interior, impossível não reparar no majestoso, aromático e escultural eucalipto-comum (Eucalyptus globulus), que nos deu as boas vindas, para logo nos surpreendermos com a explosão de bagas vermelhas ostentadas por um vaidoso, e com razão, azevinho (Ilex aquifolium), que de forma alguma se deixava ensombrar por um gigante seu vizinho; uma magnífica faia (Fagus sylvatica). Com uma altura e copa de 20 metros, esta faia-europeia é certamente umas das mais belas e imponentes que se podem encontrar na cidade e encontra-se em vias de classificação. Mas este gigante não está sozinho; um castanheiro-da-Índia (Aesculus hippocastanum), um tulipeiro (Liriodendron tulipifera), uma magnólia-de-flores-grandes (Magnolia grandiflora) e um bordo (Acer pseudoplatanus), todos monumentais, fazem-lhe companhia. Sob as calorosas folhas de uma flor-de-merenda (Lagerstroemia indica), e junto ao elaborado miradouro a partir do qual se avista a Arrábida, o sol desceu docemente sobre esta visita…

A Rota das Árvores do Porto continua no próximo dia 25 de novembro, pelas – outras – Árvores do Campo Alegre.

FOTOS | Créditos: ©2017CRE.Porto.rruiz e ©2017CRE.Porto.malmeida

A “Rota das Árvores do Porto” é uma iniciativa do Município do Porto integrada no FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. São parceiros da Rota das Árvores do Porto: Circulo Universitário do Porto, Comissão de Coordenação e Desenvolvimento Regional do Norte (CCDR-N), Condomínio da Baronesa do Seixo, Direção Regional de Cultura do Norte (Casa das Artes), Faculdade de Arquitetura da Universidade do Porto, Jardim Botânico do Porto, Parque de Ciência e Tecnologia da Universidade do Porto e Pestana Palácio do Freixo. Colabora o Arquiteto João Almeida.