Texto: Rubim Almeida* | Foto: Marta Pinto

Botanicamente, o nome Quercus designa todos os carvalhos, incluindo espécies tão diferentes como o são o carvalho-alvarinho, a azinheira e o sobreiro e foi Plínio quem, ao traduzir os textos de Teofrasto, usa pela primeira vez o nome latino “quercus” em lugar da designação grega “Drys”, utilizada na época.

A origem daquele nome poderá ter sido a latinização do celta “Kair quez”, palavra que significaria árvore bela, árvore por excelência. Contudo, outros autores sugerem diferentes etimologias relacionadas, nomeadamente, com o verbo latino “quaerere” – perguntar – pois os oráculos dos deuses reuniam-se debaixo de carvalhos. Outra possível origem seria a partir da palavra grega “kratos” – forte, robusto – e outra relação provável seria com o sânscrito “karkara” – duro.

Na velha Europa, não há dúvida nenhuma que o Quercus mais conhecido e disseminado é Quercus robur, o qual entre nós recebe a designação vernácula de Carvalho-alvarinho, Albarinho, Alvarinho, Roble, Carvalho-comum, Carvalheira e Carvalho.

Trata-se de uma árvore de folha caduca que pode atingir 20-40 m e facilmente identificável quando em fruto, pelo facto das suas bolotas serem longamente pedunculadas. As suas folhas podem ter até 10 cm de comprimento, com 4-5 lobos, de arestas macias.

Um facto interessante sobre esta espécie é o das bolotas apenas serem produzidas quando a árvore atinge os 40 anos, ou mais, e o seu pico de produção máxima ocorre cerca dos 120 anos de idade.

Cada Quercus robur e, concomitantemente as florestas desta espécie, fornece um habitat rico em biodiversidade suportando um imenso número de formas de vida. São hospedeiros de centenas de espécies de insectos, os quais por sua vez vão alimentar muitas espécies de aves. No Outono e Inverno são muitos os mamíferos que se alimentam das suas bolotas e, historicamente, o mesmo fizeram os humanos transformando bolotas em farinha para processamento de pão tal como descrevia Estrabão quando afirmava “O selvagem montanhez dormia na terra, … e durante a maior parte do ano o seu pão era feito de bolota triturada.”. Tais hábitos foram-se desvanecendo no tempo a partir do momento em que se começou a produzir trigo (cerca de 10.000 anos) ainda que, em momentos de necessidade, tenha ressurgido como foi o caso no período da Segunda Guerra Mundial.

Mitologicamente, o Carvalho-alvarinho foi sempre muito considerado em todas as culturas europeias. O Alvarinho seria sagrado para muitos deuses, incluindo Zeus (Grécia), Júpiter (Roma) e Dagda (Celta). Todos estes deuses eram considerados como tendo poderes sobre o trovão e o relâmpago e, como se sabe, aqueles carvalhos são muitas vezes atingidos por relâmpagos ao serem os maiores seres vivos na paisagem. Os druidas conduziam as suas práticas nos bosques de carvalhos, os nórdicos dedicavam aquela árvore a Thor e muitas são as casas reais que têm, ainda hoje, algum tipo de associação às suas folhas e/ou frutos (escudos de armas, por exemplo).

Quercus é um género economicamente importante no hemisfério norte. Em Portugal a sua madeira é extremamente apreciada, sobretudo no mobiliário e na elaboração de cascos para o envelhecimento de vinhos, entre os quais se destaca o generoso Vinho do Porto. No nosso país a importância desta espécie é por isso mesmo bem patente na toponímia das nossas localidades encontrando-se relacionado com Carvalha, Carvalhas, Carvalhal, Carvalheda, Carvalhelhos, Carvalhiça, Carvalhido, Carvalho, Carvalhos, Carvalhosa, Reboredo, Roboredo, Robledo e tantas outras.

Bibliografia:
Almeida da Silva, R. 1989, Estudos taxonómicos no género Quercus L.. Faculdade de Ciências da Universidade do Porto (trabalho de dissertação de PAPCC).
Morris, M.G. & Perring, F.H. (Eds.). 1974. The British Oak. Botanical Society of the British Isles, BSBI Conference Reports, no. 14. E.W. Classey, Ltd.
Santos Rocha, A. 1971. Memórias e Explorações Arqueológicas: Estações Pré-Romanasda Idade do Ferro nas Vizinhanças da Figueira, vol. II. Acta Universitatis Conimbrigensis

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* Este
texto resulta de uma colaboração graciosa do Professor Doutor Rubim Almeida com o
FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. O Professor Doutor Rubim Almeida é docente e investigador na área da botânica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde é coordenador do Mestrado em Ecologia, Ambiente e Território. Integra o CIBIO / INBIO.