Texto: Rubim Almeida* | Foto: Marta Pinto

Ainda que a referência mais antiga que conhecemos nos remeta para o Séc. XIII, desconhecemos a origem da palavra “amieiro”, que poderia estar relacionada com um termo celta, uma raiz celta relacionada com ”águas correntes”, aludindo à preferência destas árvores por esse tipo de águas. Seja como for, o nome amieiro não parece encontrar-se relacionado com o nome latino Alnus, nome científico do género, que deu origem aos termos como Aliso (Espanhol), Aune (francês), Erle (Alemão) ou Alder (inglês).

A sua área natural é a da Europa mas estende-se a toda a região temperada do Hemisfério Norte (incluindo Ásia e o extremo Noroeste de África).

Trata-se de um género com mais de 30 espécies, que em Portugal se encontra representado pela espécie Alnus glutinosa (L.) Gaertn., a qual se descreve em continuação.


Esta árvore mediana, pertencente à familia das Bétulas (Betulaceae) de 17-22 m de altura, no nosso país não ultrapassa os 10-12 m mas pode, excepcionalmente, atingir os 30-33 m. As suas folhas, muito variáveis, podem ser obtusas, obovadas ou suborbiculares, com 4-10 cm de comprimento, verdes e viscosas (daí o restritivo específico “glutinosa” significando “pegajoso”), de margens irregularmente serradas. As suas flores caracteristicas dispôem-se em amentilhos (inflorescências formando pequenas espigas). Os amentilhos masculinos são pendentes enquanto que os femininos são erectos.

Encontra-se frequentemente por todo o país, junto a cursos de água e em lugares húmidos.

A casca (ritidoma) desta árvore fornece, ainda hoje, uma substância que dá uma bela cor alaranjada própria para tinturaria a qual, quando combinada com determinadas substâncias ferrosas, dá uma cor negra que era muito usada em chapelaria. A casca é ainda considerada adstringente e febrífuga, tendo sido usada como substituto do quinino. Dis-ze que as folhas frescas do amieiro são excelente para a fadiga dos pés e que suor e dor desaparecem por vários dias, quando se dorme com os pes cobertos pelas folhas mais pegajosas .

A madeira de amieiro fornece o melhor carvão para o fabrico de pólvora e a sua madeira, muito resistente à água, é amplamente utlizada no fabrico de construções subterrâneas sendo extremamente apreciada na fabricação de “tamancos”.

Ecologica e florestalmente, os amieiros assumem uma importância fundamental por ocuparem áreas até onde os salgueiros se dão mal, formando parte da vegetação ripária, sobretudo da galeria ripícola, contribuindo para a manutenção e consolidação das margens. Uma das razões para este acontecimento, deve-se ao facto das raízes dos amieiros estabelecerem simbioses com uma bactéria filamentosa do género Frankia, as quais são capazes de fixarem o azoto atmosférico  permitindo, assim, que as árvores cresçam em solos quase sem matéria orgânica.

No folclore europeu o amieiro é considerado o Rei das Águas e o salgueiro a sua Rainha sendo associado também às fadas, havendo quem acredite que é num amieiro que se esconde o portal que dá acesso ao reino daqueles seres míticos.

Bibliografia:
Anónimo. Diccionario de Dicionarios . Corpus lexicográfico da lingua galega. Seminario de Lingüística Informática da Universidade de Vigo (http://sli.uvigo.es/ddd/ddd_pescuda.php?pescuda=amieiro&tipo_busca=lema consultado em 15 de Outubro 2014))
Moralejo, J.J. 2010. Topónimos célticos en Galicia. Serta Palaeohispanica J. de Hoz Palaeohispanica 10: 99-111. I.S.S.N.: 1578-5386.

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* Este
texto resulta de uma colaboração graciosa do Professor Doutor Rubim
Almeida com o
FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. O
Professor Doutor Rubim Almeida é docente e investigador na área da
botânica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde é
coordenador do Mestrado em Ecologia, Ambiente e Território. Integra o
CIBIO / INBIO.