Texto & Foto: Marta Pinto

O Medronheiro (Arbutus unedo) é uma árvore ou arbusto da família Ericacea, a mesma da camarinha, da urze, dos mirtilos e do rododendro.

Pode chegar aos 8 a 10 m de altura mas  habitualmente não supera os 3 a 5 metros. Tem um tronco muito escamoso do qual se desprendem pequenas placas. Os raminhos são geralmente encarnados, a folha é simples e persistente. As flores nascem em ramilhetes terminais algo pêndulos e são de cor branca, por vezes com toques rosados ou esverdeados. A corola da flor parece uma pequena campânula.

O fruto é uma baga que tem um sabor muito agradável quando madura. Floresce no outono ou inícios do inverno, ao mesmo tempo que amadurecem os frutos do ano anterior. Por isso se vêm as flores e os frutos em simultâneo. 


Habita no contorno da região mediterrânica e na Europa ocidental, preferindo solos algo frescos e algo profundos e um clima suave, sem geladas fortes. Encontra-se em bosques perenifólios (azinhais, sobreirais) e mais raramente pinhais ou eucaliptais.

O nome latino do medronheiro e dos seus frutos era arbutus. Na etimologia popular pensa-se que arbutus pode ser um diminutivo de arbor (significa pequena árvore). Outros autores fazem-no derivar do celta arbois, que significa áspero, eventualmente pela superfície dos seus frutos. Unedo, de acordo com alguns autores, procede do verbo latino edo, que significa comer. E do número unus (um só). Significa pois comer só um, o que pode fazer alusão ao facto de estes frutos terem a fama de embriagar e de dar dores de cabeça. De facto, quando bem maduros contêm uma boa quantidade de álcool.

As primeiras referências ao medronheiro datam do século IV a.C. e referem-se às virtudes do medronheiro e aos remédios atribuídos aos seus frutos, folhas e casca (Teofrasto, “A História das Plantas”). Na medicina popular é usado como adstringente, para combater as diarréias e desinteria. As folhas, em decocção, eram usadas como diurético e anti-séptico das vias urinárias. Antigamente os frutos eram usados para fermentar e obter bebidas alcoólicas e vinagre. Com esta técnica obtém-se a famosa aguardente de medronho.

As folhas e casca do medronheiro são ricas em taninos e por isso foram amplamente usadas na curtição de peles.
A madeira de medronheiro constitui um excelente combustível. Encontramos referências que noutros tempos era o preferido para casas e fornos. No entanto há um dito popular valenciano que contraria esta afirmação (“Si vols mal a la teva muller, dus li llenya d’arbocer“, se queres mal à tua mulher dá-lhe lenha de medronheiro).Teofrasto refere-se ao carvão excelente que se obtinha da madeira de medronheiro, no passado especialmente útil nas fundições de prata.Na Grécia antiga a madeira de medronheiro também era usada para fabricar instrumentos musicais (ex: flautas).

O poeta Virgílio (séc. I a.C.) na sua obra “Bucólicas e Geórgias” descreve que os medronheiros eram enxertados em nogueiras (não se sabe explicar porquê).

Um quadro muito famoso, que na corte espanhola era chamado “La pintura del madroño”, é o Jardim das Delícias Terrenas de Bosch. Foi pintado em torno do ano 1500 e no seu painel central está representado o paraíso terrestre. Os medronhos abundam. O original está no Museu do Prado.

Bibliografia: 
González, G.A.L, 2007. Guia de los árboles y arbustos de la Península Ibérica y Baleares. 3ª edición. Ed. Mundi-Prensa. 894pp.
Gascón, A.S., 1999. Nuestros árboles, el madroño. Exlibris Ediciones. 175pp.
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