Texto: Rubim Almeida* | Foto: Marta Pinto

“Louro” é um dos nomes vernáculos portugueses atribuídos à espécie Laurus nobilis L., à qual também nos podemos referir como “Sempre-verde”, “Loireiro-vulgar”, “Loureiro”, “Loureiro-comum”, “Loureiro-dos-Poetas” e “Loureiro-vulgar”.

A origem do nome Laurus, como lhe chamaram os romanos, é bastante incerta não se encontrando relacionada nem com o latim “laus” (louvar, enaltecer) nem com o nome dado pelos gregos “daphne”, de que se fala adiante. Há quem avance a teoria que originalmente em latim se chamaria “daurus”, relacionando este nome com o indo-europeu “deru” – árvore – ou que seria de origem celta, com origem na palavra “laur”, significando “verde” numa alusão às suas folhas “que nunca secam”.

Obviamente que o epíteto específico “nobilis”, com origem no latim, apenas poderia denotar o seu carácter e história tão “nobre”, como se verá abaixo.

Seja como for, na Grécia antiga o carvalho (drys

[δρῦς]) era a árvore dedicada a Zeus e no período clássico passou a ser o loureiro, sendo que tal acontecimento parece estar associado a mitos vários, entre os quais se destaca a paixão do deus Apolo pela ninfa Daphne. Apolo, que devia ser um deus bastante convencido, gabava-se das suas habilidades com o arco. Cupido, que também era arqueiro, resolveu castigá-lo e disparou-lhe uma flecha com ponta de ouro e uma segunda, com ponta de chumbo, contra Daphne. O resultado foi que Apolo se apaixonou por Daphne, enquanto a ninfa o passou a repudiar. Apolo passa então a perseguir Daphne que, cansada de fugir, recorre aos poderes do seu pai, o rei Peneu, que a transforma em “Loureiro”. Perante tal acontecimento, Apolo beija a casca da árvore e declara que para onde ele for levará as suas folhas, passando aquela árvore a ser sagrada.

De acordo com este mito as folhas e as bagas de loureiro eram sagradas sendo a “erva” dos poetas, dos oráculos, dos militares, dos homens de estado e dos estudiosos. Representavam o conhecimento e de forma tão vincada que ainda hoje se reflectem nos idiomas actuais em palavras portuguesas como bacharelato (possivelmente com origem no latim “bacca laurea” [bagas de loureiro], através do francês “baccalauréat”) ou em expressões como “poetas laureados”.

Descrita por Lineu (1753) a partir de exemplares de Itália e da Grécia, trata-se então de uma espécie mediterrânica (ainda que possa ter tido origem na Ásia Menor) e tem sido cultivada ao longo de tanto tempo, que se torna quase impossível distinguir populações naturais das cultivadas e/ou naturalizadas.
Em Portugal, encontra-se sobretudo no Norte e na região Centro (mas chega ao Algarve), preferindo claramente a influência litoral, mas sem excessiva exposição marítima. Tem preferência por solos frescos e leves e pode chegar aos 800 m de altitude, tratando-se de uma espécie que não se dá bem com ventos frios excessivos e com geadas.

Os botânicos descrevem esta espécie dióica (com flores femininas e masculinas em indivíduos separados) como tratando-se de uma pequena árvore com 5 a 10 m (raramente ultrapassando os 12 m), de tronco direito e liso, com folhas simples, odoríferas, coriáceas, alternas, de cor verde-escuro e lustrosas na página superior e verde-pálido na página inferior, com margem inteira a qual se pode apresentar ondulada. As suas flores são de cor amarelo-pálido e as femininas originam frutos (drupas) que lembram as azeitonas, tornando-se, tal como aquelas, negras na maturação.

Entre nós, o uso mais conhecido do loureiro, sobretudo das suas folhas, é na culinária. Não haverá nenhum estufado, ensopado, caldeirada ou assado tradicional no nosso país, que não conte com as folhas desta planta para lhe conferir cheiro e paladar. Também os seus ramos são usados para o mesmo efeito, sobretudo na preparação de “espetadas” entre as quais se destacam as da ilha da Madeira.

Segue-se, possivelmente, o uso medicinal já que as suas folhas, frutos e óleos foram e são usados para quase tudo desde o combate à calvície à cura das enxaquecas.
Diz-se que com 20 a 30 g de folhas de loureiro se prepara uma infusão, num litro de água, que tomada antes das refeições é um excelente aperitivo e que, se tomada depois das mesmas, funciona como digestivo. Assim mesmo, se em vez de folhas forem usados os frutos esmagados, fervidos em água durante 10 minutos, após prensagem através de um pano fino, recolhida a água da prensagem que se deixa arrefecer, recolhe-se uma camada de gordura a qual pode ser aplicada externamente contra as dores reumáticas.
De acordo com a tradição o loureiro serve para combater a formação de gases intestinais (é um carminativo), alivia as dores menstruais e regula o ciclo menstrual (é um emenagogo), é um diurético suave, é um anti-reumático e anti-inflamatório eficaz, combate a queda do cabelo e muito mais.

Bibliografia:
Nayak, S. et al. (2006). Evaluation of wound healing activity of Allamanda cathartica. L. and Laurus nobilis. L. extracts on rats. BMC Complementary and Alternative Medicine, 6:12 doi:10.1186/1472-6882-6-12
Publius Ovidius Naso (Ovídio). Metamorphoses. Book I. Translated by A. S. Kline (2000) (disponível em http://www.poetryintranslation.com/PITBR/Latin/Metamorph.htm) [originais em latim disponíveis em http://www.thelatinlibrary.com/ovid.html)
Sayyah, M., Saroukhani, G., Peirovi, A. and M. Kamalinejad. (2003). Analgesic and Anti-inflammatory Activity of the Leaf Essential oil of Laurus nobilis Linn. Phytother. Res. 17: 733–736
Simic, M., Kundakovic, T. and Kovacevic, N. (2003). Preliminary assay on the antioxidative activity of Laurus nobilis extracts. Fitoterapia 74: 613–616. doi:10.1016/S0367-326X(03)00143-6

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* Este texto resulta de uma colaboração graciosa do Professor Doutor
Rubim Almeida com o FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área
Metropolitana do Porto. O Professor Doutor Rubim Almeida é docente e
investigador na área da botânica na Faculdade de Ciências da
Universidade do Porto, onde é coordenador do Mestrado em Ecologia,
Ambiente e Território. Integra o CIBIO / INBIO.