Foto & Texto: Marta Pinto

A Aveleira (Corylus avellana) é um arbusto ou pequena árvore da nossa flora nativa (família Betulaceae, que também inclui o amieiro e a bétula). Geralmente não ultrapassa os 6 metros de altura e ramifica-se desde a base não apresentando um tronco principal bem definido. As folhas são caducas, rugosas, com nervuras bem marcadas, alargadas, de contorno arredondado e com bordo duplamente serrilhado. Floresce ainda no inverno (a partir de janeiro) e as avelãs estão maduras entre julho e outubro. Prefere sitios frescos e sombrios e associa-se a carvalhos, acers, freixos.

O termo avelã parece originar-se do latim ‘abellana nux‘ que quer dizer noz de Abella, um povoado de Campania (sul da Itália), onde abundavam as aveleiras.

A mitologia de várias culturas atribui à aveleira distintos poderes. Senão vejamos, entre os povos nórdicos e germânicos a aveleira era usada nos rituais de casamento porque se lhe atribuia o dom da fertilidade. Restos desta tradição ainda se conservam hoje em dia em Inglaterra: no condado de Dorset é habitual que os noivos visitem uma velha aveleira (em Cernehbbas) e cortem juntos um raminho desta, na véspera do casamento. Na região ucraniana de Volinia, durante o banquete de casamento a sogra lança avelãs e aveia à cebeça do genro para que ele cumpra como agente fecundador da mulher e dos campos.

Para os celtas a fonte de sabedoria primordial nascia no “Poço de Segais” ou “Poço de Conla”, que consistia em 5 correntes de água rodeadas por 9 aveleiras sagradas. Desta fonte corriam 5 regatos de água onde viviam salmões, que se alimentavam das avelãs. Aquele que bebesse dos 5 regatos, onde as aveleiras flutuavam, adquiriria o conhecimento pleno de todas as artes e ofícios. Reza o mito que também podiam obter o dito conhecimento comendo os salmões. Mac Guill, um dos reis miticos da Irlanda celta, significa ‘filho da aveleira‘.

Até ao nossos dias chegou ainda uma receita mágica que os druídas celtas guardavam com muito zelo: se uma pessoa segurasse um ramo de aveleira na mão depois de ter ingerido esporos de feto poderia ficar invisível. Aconselhamos não testar esta receita por sua conta 🙂

Na idade média, o cristianismo adoptou a aveleira como símbolo místico. Hadewijch de Amberes (poetisa e escritora cristã do séc. XIII) expressa a necessidade da paciência na experiência mística usando a aveleira como metáfora: “no início é delicada como a sua flor e os frutos demoram bastante tempo a formar-se”.

A aveleira também era usada na justiça. Em Inglaterra e até ao séc. XVIII usava-se um ramo de aveleira em forma de Y para determinar se uma pessoa era culpada ou inocente de um crime de roubo ou homicídio. O ‘juiz’ segurava as duas pontas curtas com as mãos e apontava o extremo mais longo do ramo para o acusado. O sentido da oscilação determinava a sentença. Mas o ‘ramo da justiça’ não era um qualquer. Para que tivesse propriedades de adivinhação o corte do ramo tinha que respeitar o seguinte protocolo: ser cortado em junho, ao nascer do sol e caminhando para trás em direção à aveleira escolhida. Uma vez chegado à árvore, o emissário responsável por cortar o ramo tinha que o cortar entre as suas pernas…
Na verdade, o ramo da aveleira era em geral considerado mágico. Com ele se procurava ouro, água no solo… 

No passado, os caminhantes levavam consigo um bastão de aveleira. Acreditava-se que a sua rectidão, flexibilidade, consistência e leveza ajudavam a proteger contra assaltantes e a orientar o caminheiro nas encruzilhadas. Reza ainda a lenda que bastava usar este bastão para desenhar no chão um circulo à volta da pessoa para que esta ficasse de imediato protegida de qualquer perigo…

A aveleira é considerada, desde os gregos, a árvore da reconciliação. Reza a história que Hermes (Mercúrio) reconciliou duas serpentes que combatiam atirando-lhes o bastão de Apolo (feito de madeira de aveleira). As duas serpentes imediatamente pararam a sua luta e enrolaram-se em torno do bastão e imobilizaram-se formando assim o caduceu (emblema de Hermes), que simboliza o equilíbrio entre forças antagónicas. O caduceu é atualmente usado para simbolizar o comércio e a negociação.

Mitologia à parte, a aveleira tem vários usos ligados ao nosso quotidiano. A infusão de casca de avelã é usada como diurético. A avelã tem 50 a 60% de óleos, sendo muito nutritiva. Estes óleos são muito apreciados na alimentação, na cosmética e também nas artes. A madeira de aveleira é também usada para fazer carvão de desenho para as artes. A madeira da aveleira é muito apreciada: é fácil de trabalhar, flexível, dura e resistente. No entanto não é muito duradoura e exige estar em ambientes secos. Usava-se na cestaria e na fabricação de bastões. Antigamente usava-se também para fabricar lã vegetal que era usada para encher colchões e almofadas.