O Sabugueiro (Sambucus nigra) é um arbusto da nossa flora autóctone (da família Caprifoliaceae, a mesma da lonicera e do folhado). É um arbusto denso, muito ramificado de copa arredondada que cresce até aos 5 metros de altura (não ultrapassa os 10 m). Encontra-se praticamente em todo o território nacional e pode ser também conhecido porRosa-de-bem-fazer, talvez porque as populações lhe reconhecem atributos de grande valia, quer pela aplicabilidade das suas folhas, flores e frutos em medicina popular quer pela tradicional incorporação da baga na valorização vinícola.

É considerada uma espécie ripícola de folhagem caduca. Cada folha, grande, é formada por 5 a 7 folíolos ovado-lanceolados a ovado-elípticos, opostos e serrados. O tronco, de cor cinza-claro quando jovem, apresenta uma casca grossa e sulcos longitudinais quando mais velho.

Prefere solos frescos, com certa humidade, nível freático elevado, nas margens dos cursos de água.

As suas flores pequeninas reunidas em grandes corimbos, hermafrodita, são muito atractivas para os insectos. De facto, a polinização do sabugueiro é realizada pelos insectos (bem como pelo vento).

Sabe-se que as bagas são um importante alimento para aves, nomeadamente as toutinegras e os melros, desviando-os de árvores fruteiras. A maturação dos frutos acontece entre agosto e outubro.

É uma planta muito versátil, pois são usadas todas as suas partes: cascas, raízes, folhas, flores e frutos. Na América Colonial o sabugueiro era apelidado de “o armário dos remédios”, por causa dos seus múltiplos usos.

De facto, a ampla utilização de extractos de sabugueiro para fins medicinais, culinários e cosméticos, era já conhecida dos povos pré-históricos e muito popular entre os gregos e romanos, sendo por isso aquela espécie tida desde então como guardiã da saúde. O primeiro registo do uso desta planta no meio medicinal parece ter aparecido nos escritos de Hipócrates há 2.500 anos.

A planta é ligeiramente tóxica (devido à sambunigrina, um glucósido cianogénico) nas folhas, casca fresca, frutos verdes. Os frutos maduros (comestíveis) e as flores podem ser usados. As bagas devem ser ingeridas preferencialmente secas e com moderação.

Na medicina tradicional, o sabugueiro é uma das plantas medicinais mais utilizadas: é usada para baixar o ácido úrico, reduzir a ocorrência de cálculos renais e eliminar toxinas em geral, sendo considerado um excelente depurador do sangue. Actua em casos de febre de origem desconhecida e fomenta a formação de urina e suor, mas também a de leite em jovens mamãs (pelo óleo essencial). É também usado no combate a resfriados, rouquidão, tosse, espirros, catarros do peito e brônquios, dores dos molares, nevralgias, dores de ouvidos e de cabeça e inflamação da laringe e garganta. É uma das espécies medicinais mais activas contra os vírus influenza, pois há muito tempo que se dava crédito à utilização das bagas do sabugueiro como um óptimo remédio para combater a gripe e curar estados febris. Na medicina tradicional, a flor de sabugueiro era ainda sugerida como remédio para a diabetes (e de facto, estudos recentes in vitro demonstram que as flores do sabugueiro contêm substâncias capazes de estimular o metabolismo da glicose). Também é um excelente laxante, diurético e sudorífero.

O sabugueiro contém pigmentos orgânicos, taninos, aminoácidos, carotenóides e flavonóides, incluindo a quercitina, antocianinas, ácido vibúrnico, vitaminas A e B, e uma grande quantidade de vitamina C. Vários estudos demonstram que estas antocianinas melhoram a função imunológica dos indivíduos.

Em Portugal, no Vale do Varosa e Távora, em especial no concelho de Tarouca, esta espécie tem uma expressão considerável e os agricultores tiram dela bom rendimento. Há três tipos de variedades cultivadas: a sabugueira, a bastardeira e o sabugueiro. Nas últimas décadas a baga vem sendo exportada para a Alemanha, sobretudo para aplicação nas indústrias de cosmética, farmacêutica e alimentar. A Regiefrutas pretende comercializar 4000 t de baga até 2014 exportando-a no estado líquido, o que corresponderá a cerca de 2.500.000 de euros.

Em Portugal, a baga do Varosa, assim considerada pelos monges de Cister (séculos XII a XVII) era por eles utilizada, e pela população em geral, para fins culinários e terapêuticos, tendo-se perpetuado estes usos e costumes até aos nossos dias.

Há quem diga que o nome do género Sambucus vem do grego ‘sambuke’ – palavra não conhecida – que significa flauta, porque os seus troncos ocos foram usados para fazer este instrumento. Além de ficar oca, a madeira do sabugueiro empena e fissura com muita facilidade, o que não lhe garante grande fama.

No passado esta espécie quase foi extinta em Portugal. Tal facto deveu-se à grande procura de vinhos do Porto na primeira metade do século XVIII. A procura era de tal modo significativa que muitos agricultores começaram a usar a baga do sabugueiro para dar cor a vinhos mais fracos, que eram depois vendidos como Vinho do Porto. Por isso, o Marquês de Pombal proibiu o cultivo de sabugueiro e, na tentativa de acabar com aquelas adulterações, foi arrancado em tal escala que quase se erradicou a espécie.

Texto: Marta Pinto | Foto: Marta Pinto | Revisão Científica: Rubim Almeida*

Bibliografia:
Cerdeira, A., 2010. Efeito de factores microclimáticos e de fertilidade do solo nos teores fenólicos e de pigmentos do sabugueiro (Sambucus nigra L.). Dissertação de Mestrado em Engenharia Florestal. UTAD. 85 pp. (https://repositorio.utad.pt/bitstream/10348/527/1/MsC_amccerdeira.pdf) 
González, G.A.L, 2007. Guia de los árboles y arbustos de la Península Ibérica y Baleares. 3ª edición. Ed. Mundi-Prensa. 894pp.

Características

  • Altura : Normalmente até 6m.
  • Fruto : Baga carnuda e globosa que passa de verde a negra, no fim da maturação.
  • Habitat : Solos frescos, com certa humidade, nas margens dos cursos de água.
*Este texto resulta de uma colaboração graciosa do Professor Doutor Rubim Almeida com o FUTURO – projeto das 100.000 árvores na Área Metropolitana do Porto. O Professor Doutor Rubim Almeida é docente e investigador na área da botânica na Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, onde é coordenador do Mestrado em Ecologia, Ambiente e Território.  Integra o CIBIO / INBIO.