A bétula (Betula sp.) é uma árvore da família Betulaceae, a mesma do amieiro (Alnus glutinosa) e da aveleira (Corylus avellana).

A bétula apareceu no planeta há mais de 30 milhões de anos e, após as glaciações, foi uma das primeiras espécies despertar de um longo sono e a cobrir o território da Europa.

Alcança os 10 a 15 metros de altura, tem um tronco recto, não muito largo, e a casca lisa. Em Portugal ocorrem espontaneamente as espécies Betula pubescens, Betula celtiberica e Betula pendula.

É uma árvore de folha caduca. As folhas são alternas, simples e de forma ovado-triangular com bordo irregularmente serrilhado e pecíolo bem desenvolvido (com cerca de 2 cm). Floresce em abril ou maio. Os frutos estão maduros entre julho e setembro. Tal como a aveleira e o amieiro, é uma espécie mónoica, isto é, na mesma árvore tem flores masculinas e femininas (amentilhos).

As sementes de bétula são os seres alados dos mais ligeiros que se conhece: um grama tem mais de 10.000 sementes que são transportadas facilmente pelo vento a longas distâncias. Uma árvore adulta produz cerca de 1 kg de sementes.

As bétulas são espécies de vida curta. Têm uma rápida dispersão e um crescimento vigoroso. Conseguem facilmente estabelecer populações: toleram o frio, a água, os solos pobres e ácidos, os terrenos ardidos. Depois de instaladas, têm a capacidade de alterar as condições do solo com alguma rapidez. As suas raízes drenam nutrientes, em especial cálcio e sais potássicos, contribuindo para o equilíbrio do solo. Além disso, excretam auxinas (hormonas de crescimento) que favorecem a vida dos microorganismos e estimulam o desenvolvimento das plantas. São por isso espécies pioneiras para futuros carvalhais (a bétula equilibra o solo e garante a sombra necessária para o desenvolvimento dos carvalhos).

Por este motivo a bétula é considerada uma árvore generosa: cria as condições para o carvalho e depois de cumprida a sua missão é facilmente relegado pelas árvores às quais deu sombra, que cresceram ao seu amparo. Amante da luz, a bétula sucumbe sob a canópia dos carvalhos.

A designação da bétula pode derivar do gálico beto (resina que extraiam para preparar uma pomada), do celta ou do gáelico arcaico, que significa branco brilhante. Pode ainda ter tido origem no sânscrito bhurga, nome de uma árvore que era usada para a escrita ou ainda do verbo batuo, pois era usada amplamente por professores para açoitar crianças e adolescentes rebeldes.

A bétula é conhecida como a árvore da sabedoria: não porque alguma infusão de bétula melhorasse a prestação dos alunos mas porque era usada para atos de punição nas escolas. A expressão ‘a letra com sangue entra’ era aplicada, num passado talvez não muito afastado, de forma literal. Em inglês, a bétula chama se birch, que significa bater ou açoitar.

No calendário celta é uma espécie ligada ao solstício de inverno, que expressa esperança na luz e na renovação que viriam depois. O calendário celta associa árvores aos meses e a bétula corresponde ao primeiro mês desse calendário (o atual mês de novembro).

Na antiga Roma a madeira de bétula era usada para fazer torchas nupciais. Era-lhes atribuído o dom de trazer felicidade ao casal. Esta informação chega ao presente através dos escritos de Plínio.

Da bétula extrai-se quase tudo. A sua madeira é quase branca, de grão fino, pouco dura e não muito durável. É usada para chapear e para produzir papel de escrita. A lenha de bétula é de excelente qualidade e a sua casca e ramos são ideais para acender lareiras e iluminar. A madeira é usada para fazer solos, pratos, caçarolas, obras de marcenaria e também, embora mais raramente, na construção. Na segunda guerra mundial esta madeira foi usada para produzir um avião (que ficou conhecido como o spruce goose). Os pastores vascos preferiam esta madeira para fazer todo o tipo de recipientes para queijo e leite, pois é uma madeira que não greta.
A flexibilidade dos seus ramos permite usá-los em cestaria, ataduras, vassouras. Com os ramos mais finos, ainda verdes, os finlandeses açoitam-se nas saunas, para favorecer a circulação sanguínea.

As folhas jovens e frescas da bétula podem ser usadas em saladas. São ricas em flavonas e, por isso, muito diuréticas.
A seiva primaveril (março e abril), obtida por incisão do tronco antes que brotem as folhas, é diurética e antirreumática. Na medicina popular é considerada excelente para as inflamações do sistema urinário.
Esta seiva pode ser fermentada (por fermentação alcoólica) e resultar numa cerveja ou vinho de bétula, de sabor muito agradável, que é muito apreciado no norte da Europa.
Com a seiva extraída da casca e dos rebentos pode fazer-se uma pomada que combate a psoriase e outros eczemas.
Recentemente observou-se que o ácido betulínico, extraído da casca da bétula, pode ser eficaz contra certos tipos de cancro da pele (melanoma).

Cabe ainda dizer que a palavra livro existe porque existem as bétulas. Na antiguidade a casca interior da bétula – fina e quase transparente – era designada librum (latim) e usada para escrever.

Texto: Marta Pinto | Foto: Maria Almeida

Bibliografia:
Anónimo. Diccionario de Dicionarios . Corpus lexicográfico da lingua galega. Seminario de Lingüística Informática da Universidade de Vigo(http://sli.uvigo.es/ddd/ddd_pescuda.php?pescuda=amieiro&tipo_busca=lema consultado em 15 de Outubro 2014))Moralejo, J.J. 2010. Topónimos célticos en Galicia. Serta Palaeohispanica J.

Características

  • Altura : Entre 10 a 15m.
  • Fruto : Flores em amentilhos (pequenas espigas) pendentes.
  • Habitat : Turfeiras, margens de cursos de água e locais húmidos.